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the things you own end up owning you

  • Foto do escritor: melody erlea
    melody erlea
  • 2 de nov. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 5 de nov. de 2024


tem um conto numa coletânea de sci fi dos anos 1950 que se destaca na minha memória. eu tinha uns 11 anos quando li e essa história era particularmente diferente das outras.


era contada em primeira pessoa por esse homem que, aos poucos, a gente entendia ser um homem primitivo. o tal “homem das cavernas”. ele coleta e carrega pedras “especiais”, e fica triste de às vezes precisar abrir mão de uma pedra porque não consegue carregar todas. um dia aparecem umas pessoas diferentes nas redondezas - pessoas que ele descreve tendo uma “segunda pele” e uma maneira criativa de carregar suas pedras, penduradas por cordas ao redor do pescoço.


essas pessoas são humanos modernos, explorando esse lugar que é tipo um safári onde mora o último grupo de homens das cavernas, isolados da civilização. os visitantes têm binóculos e armas penduradas no pescoço. o homem pré histórico segue coletando suas pedras preferidas, planejando oferecer uma em troca do conhecimento de como fazer as cordas no pescoço pra carregar apetrechos; e fica pra nós, os melancólicos leitores, a conclusão de que ele será assassinado assim que tentar se aproximar.


e, também, de que é inerente ao ser humano, da pré história aos tempos atuais, essa vontade de colecionar objetos.


no livro just kids, patti smith descreve o cuidado com que ela empacota um vestido e alguns acessórios para ser fotografada. ela conta como escolheu a camisa para a foto da capa de seu primeiro disco, horses, acompanhada de um blazer e um pequeno broche de cavalo na lapela. o vestido, a camisa, o blazer, o broche: peças no grande quebra-cabeça de memorabília de patti; importantes porque contavam histórias, carregavam memórias; se tornavam parte de quem ela era.


todo mundo suas pedras especiais. às vezes essas pedras são anéis vintage herdados da avó, às vezes são jaquetas da sua banda favorita garimpadas em brechó, às vezes são pôsteres, ou botas, ou pequenos objetos de decoração acumulados ao longo dos anos.


às vezes são memórias fragmentadas de um conto de ficção científica lido há mais de 20 anos. às vezes memórias fragmentadas da vida.


tinha uma pedra, carlinhos, você bem que avisou, bem ali no meio do caminho.

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