pj harvey está trazendo amor pra você, mais uma vez

eu sou a última pessoa a apreciar essa volta para o passado que tamo vivendo na cultura (alôu, cinema, cadê histórias novas?), mas se tem alguém que pode e deve se revisitar sempre que possível, esse alguém é a pj harvey.

em julho ela lançou o primeiro de sua coleção de discos de demos (uns vocais quase angelicais de tão jovens contrastando com a escuridão daquelas letras, um noventismo doido), e hoje saiu a versão demo de to bring you my love, o disco que me apresentou à força pura de polly jean.

pohan, cara, que disco.

ouvir as versões demo - ainda mais cruas, mais expostas, suquinho de polly jean sem qualquer conservante açucar ou aroma artificial - é uma volta sem retorno às profundezas de alguns dos meus sentimentos mais desconfortáveis, mais difíceis de entender e que mais me fazem sentir puramente humana - insignificante, sem sentido ou verdade maior, perdida num infinito que não se explica e que eu nunca vou absorver

foto: Will Cavagnolli

e isso que é música boa: música que faz a gente se ver como realmente é - ínfimos e monstruosos.

meet ze monsta, diz polly, e o monstro é ela, mas é também eu mesma. e na versão demo, despida de todos os enfeites de produção, eu senti o monsta, de verdade verdadeira, bem no centro da minha cabeça, naquele ponto da onde parece vir a minha voz interior.

ao contrário das demos de dry, lançadas uns meses atrás, que eram só a voz da pj e um violão, as desse disco já tem uma leve produção - down by the water, por exemplo, tá bem reconhecível com a linha de baixo distorcida e hipnótica por baixo da voz que pede pelo retorno da sua filha.

mas, assim como o resto do disco, tá muito mais intimista, mais claustrofóbica, mais uma súplica dolorida do que a maldição de bruxa raivosa que a versão de estúdio do álbum me parecia ser. e é isso que eu quero na minha vida musical: súplica e maldição.