paraíso de schrodinger
- melody erlea
- 2 de set. de 2020
- 2 min de leitura
eu sou feliz dormindo. minhas insônias são ocasionais e relativamente tranquilas, e no resto das noites costumo dormir bem e acordar cedo num susto ansioso. não costumo ter pesadelos; tenho sonhos muito doidos dos quais acordo de manhã apenas com uma sensação no corpo, um aftertaste, mas nenhuma lembrança clara do roteiro ou de quem participou da história.
a tranquilidade de dormir não se assemelha com nenhum momento que eu passo acordada, a não ser quando estou dirigindo. enquanto eu estou dirigindo não há nada que eu possa fazer - as responsabilidades estão momentaneamente pausadas; só posso guiar o carro e ouvir música. enquanto eu estiver no trânsito, todos os afazeres ficam no aguardo, num paraíso de schrodinger em que eles existem e não existem ao mesmo tempo.
dirigir é um limbo temporário da vida, assim como dormir.
é por isso que o livro my year of rest and relaxation me impressionou tanto, me fez sentir tão acolhida - e ao mesmo tempo levemente repugnada, naquele estilo "credo que delícia" de prazeres culposos que fingimos não querer porque não ia pegar bem. mas se eu tivesse os meios financeiros pra pausar minha vida por um ano e dormir - alheia a acontecimentos políticos, a ansiedade de trampo e vida adulta, sem precisar me preocupar com relações familiares, românticas, profissionais, de amizade.... pohan, me diz se esse ano de quarentena e caos não serviria perfeitamente pra um ano sabático desse?
parece uma leitura deprimente e tenebrosa, mas otessa a enche de humor negro, observações niilistas de alguém que voluntariamente se retirou do mundo, piras psicodélicas misteriosas e umas nostalgias anos 2000 (o livro se passa de 2000 pra 2001).
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