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moda e segunda guerra: quatro anedotas

  • Foto do escritor: melody erlea
    melody erlea
  • 19 de jul. de 2019
  • 6 min de leitura

a 2ª guerra mundial e o pós-guerra foram um período de extrema criatividade fashion no reino unido e nos estados unidos: a oferta escassa de tecidos ia em grande parte para os uniformes dos soldados e o governo incentivava enormemente a economia criativa e o reuso de tudo que as pessoas tinham em casa.


quem tava produzindo moda precisava investir exatamente nisso: versatilidade, a necessidade de poder usar uma mesma coisa muitas vezes de muitos jeitos, e entender o parco poder aquisitivo das pessoas na época e criar produtos pelos quais elas quisessem pagar.


esses sapatos de 1949, chamados multi-style shoes, eram um produto que entendia bem o espírito de consumo da mulher do fim dos anos 40: uma base básica e elegante, com possibilidades mil de customização tanto com os acessórios que eram comercializados com os sapatos tanto com materiais que talvez as mulheres já tivessem em casa, como fitas de couro, laços, cordões bonitos...


se fosse de material bom e confortável, esse é um sapato que eu super compraria e usaria atualmente - imagina, é um ***repete sapato*** no seu estado mais puro, ia combinar super com meu humilde bloguinho! não descobri a marca pra dar uma bisoiada no que mais essa empresa tava inventando, mas deixo aqui minha indireta pras pequenas produtoras de sapato que quiserem se juntar a mim e desenhar esse produtinho, APENAS IMAGINEM AS PESSOA TUDO, como diria john lennon.


afff vou parar aqui de surfar na maionese e deixar avisado: tô pensando, nos próximos dias, em dar um belo rolê por esse período do pós 2ª guerra e compartilhar umas curiosidades fashion dessa época, qq 6s acham? as coisas aqui no meu insta andam muito contemporâneas: teve adventure time, beetlejuice, miley cyrus, patti smith, childish gambino.... tá na hora de dar uma...


***viajada no tempo com melzinha***


bora?



durante um tempo eu ia na 25 de março e por todos os lados eu ouvia o doce canto do sutiã de alça de silicone. ÓALÇADISILICOOOONE AAAALÇADISILICONE ô modinha do satanás.


depois esse canto foi substituído pelo do invisible bra, aquela concha de silicone que cola nos seios pra usar com decotes nas costas, roupas sem alça, essas vestimentas femininas com as quais sutiã definitivamente não combina. eu usei esse sutiã que cola, viu, usei à beça.


hoje em dia não tenho mais esse problema porque sutiã é uma palavra que eu praticamente apaguei do meu vocabulário - me livrei dessa opressão e com ela foram todos os sutiãs embora.


qual não foi minha surpresa ao descobrir que o invisible bra existe desde 1949! e PASMEM, lá nos anos 40 ele foi feito pra ser exibido, não pra ser uma coisa nude esquisita escondida embaixo da roupa.


charles l. lang via sua esposa lutando com as alças dos seus maiôs e pensou pohannnn tem que ter um jeito melhor de fazer isso. aí ele se juntou ao químico charles watson pra desenvolver um adesivo que fosse fácil de retirar da pele mas durasse bastante e resistisse a movimentos, exercícios e vida social enquanto tivesse sendo usado.


esse adesivo ele vendia junto com os sutiãs da linha "poses" - esses pedaços de pano meio em formato de cone com babadinho em volta.


não é a toa que ele parece um cruzamento do sutiã-cone da madonna com o sutiã de algodão da sua vó: no mesmo ano, 49, foi lançado oficialmente o bullet-bra (sutiã-bala) da marca maidenform. esse modelo de sutiã mais pontudo e sexy já mostrava as caras desde o começo dos anos 40 mas nos anos 50 eles viraram a escolha de basicamente toda e qualquer mulher.


um dia conto essa história melhor, mas por enquanto: biquini colante, tá aí uma tendência que não devia ter morrido. sei que agora tem carnaval e adesivos de mamilo, mas eu queria que isso fosse o padrão das praias e piscinas - imagina o bronze, que maravilha?




a 2ª guerra mundial (e o pós guerra) foi um período interessantíssimo na moda. a gente ouve muito falar no new look da dior (que foi desfilado em 1947) e no frisson que essa estética de vestuário teve. em 47 a guerra havia acabado há dois anos e existia mesmo uma aura, um zeitgeist, de esquecer as agruras e as dificuldades e se jogar no novo, no belo, na felicidade adquirida em loja, mas isso - como ainda é hoje - partia e era direcionado a uma parcela da população com poder aquisitivo e posicionamento social estável.


durante a guerra a relação que as pessoas (principalmente mulheres) eram incentivadas a ter com o consumo de roupa era totalmente diferente desse deslumbramento das grifes e das publicações de moda. durante a guerra roupa era item racionado - precisava de cupom pra comprar e cada família recebia um número limitado deles.


o governo britânico distribuía gratuitamente vários manuais ensinando como reaproveitar roupas danificadas (ou meias, lençóis, toalhas de mesa, conjuntos americanos, tudo que fizesse o tecido ter serventia) desmontado-as e transformando em novas roupas. sem contar os tantos outros ensinando a a gente a fazer a comida durar mais tempo, a guardar e cuidar das roupas de inverno para que elas durassem por muitos anos, dando dicas de como evitar comprar coisas novas... num período de racionamento de basicamente tudo, era importantíssimo que a população entendesse o valor dos bens de consumo e necessidades básicas. era a política do "make do and mend" - algo como "use o que tem e remende" numa tradução livre minha.


muito louco como em alguns anos a coisa mudou completamente: até 45 racionamento, em 47 o consumo da novidade já começava a se estabelecer. isso foi ontem gente, e hoje a gente tá aqui vivendo um mundo em que consumir e descartar é o princípio básico da existência.


nada como uma guerrinha pra por as coisas em perspectiva, né? longe de mim desejar morte desastre miséria e destruição, mas um governo que visse a produção de bens, o consumo e o gasto financeiro dos cidadãos como algo a ser discutido, ensinado e reformulado ia ser massa, não ia?



quem acompanha o @repeteroupa há um tempo sabe que eu piro em lenços e echarpes - no blog tem uma página com alguns tutoriais pra transformar lenço em saia, vestido, blusa, colete, pohannnn, várias coisas. é uma peça extremamente versátil e salva o rolê às vezes.


muita gente já me pediu pra fazer tutorial de turbante mas a real é que eu não uso, não manjo e morro de medo de estar me apropriando culturalmente de algo que eu não deveria.


entendo a necessidade de preservar um símbolo de vestuário de povos e culturas que tiveram que esconder suas peculiaridades e estéticas por séculos, mas a real é que o lenço na cabeça já tá no imaginário branco ocidental desde o começo do século XX, e por incrível que pareça não foi fruto de apropriação cultural.


as mulheres da união soviética sempre prenderam seus cabelos em turbantes - porque elas trabalhavam em fábricas, e cabelo solto é um perigo nesse ambiente.


nos anos 40, poque os hómi tava tudo sendo enviado pra campo de batalha, as mulheres da grã-bretanha e dos eua também foram trabalhar - e PASMEM atrizes de hollywood tipo veronica lake (que tinha popularizado o cabelo ondulado cobrindo metade do rosto, bem jessica rabbit) foram pagas pra fazer vídeos ensinando mulheres a protegerem seus cabelos - e suas vidas - com turbantes.


o turbante virou símbolo de força feminina de trabalho (lembra daquele poster WE CAN DO IT? foi feito pra levantar a moral dos trabalhadores da empresa westinghouse. esse poster só foi visto pelos empregados da empresa até os anos 80 quando foi redescoberto, e de lá pra cá virou símbolo feminista)


o lenço também tinha a vantagem de ser um pedaço de pano barato que podia ser amarrado e dobrado pra virar qualquer coisa - inclusive biquini. em tempos de racionamento de roupa, a popularidade do lenço explodiu - em 1943 as vendas de echarpe subiram 37% nos eua - e já vinha subindo significantemente nos anos anteriores.


o biquíni da segunda foto é incrível e dá pra fazer com dois lenços. não sei se resiste a um mergulho ou uma partida de frescobol, mas pelo menos dá pra pagar peitinho com estilo e originalidade, e ainda ser esnobe vintage e dizer APRENDI ESTUDANDO A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

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