loucura encaixotada
- melody erlea
- 11 de mai. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de nov. de 2024

o ritual que me acompanha desde 2001: sentar ao computador, abrir o blogspot (ou o desembucha, o weblogger, o globo blogger, o wordpress, o facebook, e, finalmente, o instagram) e pensar “o que eu quero escrever hoje”? e escrever.
eu nunca consegui sair dessa mentalidade. sentar, cogitar sobre o que eu tenho a dizer, deixar os dedos passearem pelo teclado escrevendo uma crônica mal-ajambrada do meu dia, da minha semana, ou só das tristezas diversas que caminham entre minhas orelhas.
engajamento e algoritmo são o oposto completo da expressão criativa da escrita espontânea. e eu, por incrível que pareça, não consigo ainda me entender com essa nova maneira de blogar, que é menos sobre expressar algo que precisa de algum jeito escapar de dentro de mim, e muito mais sobre entender tendências e criar artimanhas de alcance. às vezes eu não quero artimanhas, às vezes eu quero só escrever e ser lida.
eu sei que esse papo de que só a tristeza inspira a arte é balela, mas pra mim escrever sempre foi, um pouco, sobre estar triste. ou sozinha, desesperançosa, com raiva, e tantas tantas tantas vezes escrever foi sobre sentir que estou lentamente enlouquecendo.
no instagram não há espaço para enlouquecer. nessa dinâmica de redes sociais, até a loucura é estratégica, planejada, fake. o novo blogar - o blogar das influencers, das criadoras de conteúdo - é muito pouco sobre expressar aquela coisa obscura que mora dentro da gente. é muito mais sobre ser e parecer feliz, cool, estiloso, inteligente, bem-informado e posicionado.
eu não consigo ser tudo isso sempre. aliás, eu não consigo ser tudo isso nunca, nem uma fração disso. mas consigo ser frações de várias outras coisas, menos algorítmicas, menos engajantes. várias frações de loucurinhas acontecendo dentro de mim, várias frações de tudo que eu não compreendo, várias frações de sentimentos que não conseguem ser contidos num vídeo de 30 segundos. nem numa legenda de 2 mil caracteres.
Comments