everyday is like sunday
- melody erlea
- 5 de mar. de 2020
- 2 min de leitura
todo dia eu passeio com a matilda. é a primeira coisa que faço no meu dia, depois de ir ao banheiro e escovar os dentes, e antes de arrumar a cama (que, na maioria dos dias, não arrumo). minha rua já é naturalmente vazia e agora, então, tá desértica. atualmente, tem sido um dos únicos momentos em que saio de casa. é bom pra matilda, claro, mas é particularmente bom pra mim, que me movimento, deixo um solzinho bater na minha cara, e volto pra casa com a sensação de (pelo menos um) dever cumprido.
hoje saí de casa e tive, mesmo, uma sensação de apocalipse. o posto de gasolina da esquina, que normalmente tem pelo menos uma fila de três carros por bomba, hoje tava completamente vazio. o boteco da esquina, que sempre vejo abrindo enquanto escuto o barulho de faxina lá dentro, tava fechado e escuro. até os canteiros, normalmente cheios de mato e lixo, tavam estranhamente podados e limpos, como se nem tivesse havido vida e presença humana lá por muito tempo.
hoje foi o domingo mais domingo da minha vida. daquele tipo que faz imediatamente o morrissey começar a cantarolar na nossa cabeça uma canção sobre cidades abandonadas e bombas nucleares que alguém esqueceu de jogar. daquele tipo que faz a gente desejar pelo armageddon real, porque esse apocalipse silencioso e deserto é muito mais aterrorizante.
todo dia tem sido, sim, silencioso e cinzento como um domingo, mas hoje, particularmente, foi um domingo digno de uma música antiga do morrissey sobre domingos silenciosos e cinzentos.
(dois posts seguidos na mesma manhã sem foto de rosto ou de look, acho que isso se encaixaria em suicídio-de-engajamento, mas às vezes mais importante que engajar é só se expressar mesmo)
Comments