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todo dia tem parecido domingo (mas não do jeito bom)

  • Foto do escritor: melody erlea
    melody erlea
  • 22 de mar. de 2020
  • 2 min de leitura

todo dia eu passeio com a matilda. é a primeira coisa que faço no meu dia, depois de ir ao banheiro e escovar os dentes, e antes de arrumar a cama (que, na maioria dos dias, não arrumo). minha rua já é naturalmente vazia e agora, então, tá desértica. atualmente, tem sido um dos únicos momentos em que saio de casa. é bom pra matilda, claro, mas é particularmente bom pra mim, que me movimento, deixo um solzinho bater na minha cara, e volto pra casa com a sensação de (pelo menos um) dever cumprido.

hoje saí de casa e tive, mesmo, uma sensação de apocalipse. o posto de gasolina da esquina, que normalmente tem pelo menos uma fila de três carros por bomba, hoje tava completamente vazio. o boteco da esquina, que sempre vejo abrindo enquanto escuto o barulho de faxina lá dentro, tava fechado e escuro. até os canteiros, normalmente cheios de mato e lixo, tavam estranhamente podados e limpos, como se nem tivesse havido vida e presença humana lá por muito tempo.

hoje foi o domingo mais domingo da minha vida. daquele tipo que faz imeditamente o morrissey começar a cantarolar na nossa cabeça uma canção sobre cidades abandonadas e bombas nucleares que esqueceram de jogar. daquele tipo que faz a gente desejar pelo armageddon real, porque esse apocalipse silencioso e deserto é muito mais aterrorizante. todo dia tem sido, sim, silencioso e cinzento como um domingo, mas hoje, particularmente, foi um domingo digno de uma música antiga do morrissey sobre domingos silenciosos e cinzentos.


(costumo evitar esse tipo de post mais sensível e pessoal por aqui, mas com tudo que está acontecendo acho que mais importante que se manter no tema é se expressar mesmo)



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