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ch ch changes - sobre franjas e transformações

  • Foto do escritor: melody erlea
    melody erlea
  • 14 de jul. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 5 de nov. de 2024


esse texto vai parecer, a príncipio, uma série de anedotas desencontradas sobre mim - mas como quase sempre, toda anedota é uma metáfora e todas as histórias se conectam de algum jeito (ou talvez eu só esteja assistindo mais episódios de dark por noite do que seria adequado para manter uma mente sã) e o mesmo vai acontecer nesse post.


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quando eu tinha 14 anos pedi pra minha mãe cortar uma franja no meu cabelo. era mais ou menos vontade de parecer a anna karina, mais ou menos vontade de parecer as fotologgers alternativas-góticas, e mais ou menos culpa de um episódio de sakura card captors que me fez desejar ser a tomoyo, melhor amiga da sakura.


essa franja resolvia muitas coisas de uma vez pra uma adolescente insegura: cobria parte do meu rosto, camuflava a textura real do meu cabelo e era meio que um outdoor na minha testa das referências de role model feminino que eu colecionava (a mulher-de-franja, quantas coisas ela representa).


dos 14 aos 28 anos eu cultivei essa franja, que foi reta na testa estilo pin up, comprida jogada pro lado, na altura da soobrancelha bem 60s, curtinha desfiada meio indie, todo tipo de franja que dava pra ter eu tive - até que em 2016, quando eu comecei a caminhar pro tipo de questionamento que me levou a criar o repete roupa eu decidi, depois de 14 anos, deixar a franja crescer e mostrar minha testa pro mundo. quando o RR surgiu, em janeiro de 2017, eu tinha parado de usar lentes de contato, não tinha mais franja e ia ficar um ano inteiro sem consumir nada que fosse supérfluo - talk about ch ch changes, hein.

olha eu em 2015

três anos depois, a vida sem franja me ensinou algumas coisas legais: que minha testa não é assim tão importante, que meu cabelo também não é assim tão importante, e que minha auto-estima não devia depender exclusivamente da minha testa ser escondida por uma cortina de cabelos lisos e perfeitos. eu passei de jamais-nunca-sob-nenhuma-hipótese sair de casa sem a franja feita as lentes de contato colocadas e o delineador contornando os olhos a me aceitar do jeitinho que eu era naturalmente: com cabelos ondulados, quase 8 graus de miopia, sem tempo irmão pra pintar os olhos todo dia.


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essa experiência com aprender a olhar pra mim sem os apetrechos e rituais de embelezamento que me tomavam tempo e dinheiro (e não me faziam me sentir mais confiante) foi algo sobre o qual eu falei durante esses anos de repete roupa.


a ideia de consumir menos e melhor em prol da nossa própria auto-estima foi um dos grandes discursos inciais desse blog, que culminou no conceito de boicote à fast fashion e à dinâmica do mercado de moda de sempre nos fazer consumir tendências para então ficarmos insatisfeitos com elas e procurarmos novos itens pra consumir. moda sustentável foi sempre um dos pilares do repete roupa, e durante os dois primeiros anos de sua existência meu objetivo era me posicionar dentro dessa área.


mas, como outras vezes, a moda me decepcionou. o marketing e o incentivo de consumo desnecessário estão tão presentes nos círculos de sustentabilidade quanto na moda mainstream, e é mais feio porque tá escondido por trás de uma suposta irmandade de mulheres trabalhando e produzindo conteúdo por uma moda melhor. o behind the scenes do marketing de influência da sustentabilidade tá cheio de greenwashing, produto inútil, roupa inacessível e fofoca.


o uso de publi e propaganda pra monetizar conteúdo vai totalmente contra o tipo de internet que eu quero consumir e produzir, e a precariedade dos contratos e acordos de publipost para influencers é uma tristeza que só. pouquíssimo espaço pra criação real, pra pensar em conteúdos juntos e realmente usar a personalidade de cada espaço online pra divulgar os produtos que realmente se encaixam no discurso e no público.o que mais vejo é fórmula de publi post manjada e sem planejamento, em troca de pouca coisa, e apreço por ideias genéricas e massificadas. sem contar o greenwashing, vish, aí é todo um outro post só pra isso.


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algumas semanas atrás - deve ser a tal crise da quarentena que eu vi tanto pelas redes sociais - me bateu um impulso súbito e eu taquei a tesoura nas madeixas e voltei pra franja. no fim das contas, a experiência de descobrir minha cara sem franja e de óculos foi importante pra eu me entender com algumas das minhas escolhas de aparência - e, principalmente, que eu não preciso depender delas. retorno à franjinha que representa tantas das minhas referências femininas, mas sem a nóia da melzinha pré-repete roupa, que chorava se não tinha tempo de secar o cabelo. ter operado a miopia também contribuiu pra essa deicsão - ter um elemento a menos no meu rosto me permitiu tapar a testa com franja sem esconder demais a cara.


mudanças podem ser, também, retornos.


mas às vezes elas precisam ser só mudanças, mesmo.


e é isso que tá acontecendo com o repete roupa: uma baita transformação. estamos aos poucos adicionando membros à nossa equipe, expandindo nossos assuntos e posicionamentos e nos afastando gradualmente da monotemática da moda sustentável, que não estava mais cabendo na proposta que eu visualizo pra esse espaço.


enquanto procuro maneiras de monetizar o trabalho desse blog sem me render aos publiposts e anúncios (coisas que eu, particularmente, odeio, e as quais eu não quero submeter meus leitores), vou mudando o posicionamento do nosso conteúdo, que agora abrange cultura pop, música, tv, moda e como elas se entrelaçam com nossa sociedade, política e história.


quero que esse site tenha perspectivas, resenahs e opiniões sobre fenômenos pop e políticos mas também seja um espaço de histórias pessoais sobre aprendizados, consumo, viagens, e o que mais puder interessar às pessoas que consomem cultura pop e gostam de ler conteúdo desatrelado de marcas e empresas.


acredito muito na força do conteúdo independente - mais do que acredito na força da moda sustentável, e olha que não é pouco - e quero criar um espaço acessível, abrangente, curioso, inteligente e divertido (igual minha franja me faz parecer).


vem comigo?


me conta sua história de transformação? o que é mudar pra você e que mudanças você tem enxergado nos últimos tempos? já cortou franja? já raspou o cabelo? comenta aí embaixo ou manda um email pra melody@repeteroupa.com!



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