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as pílulas irregulares de alanis

  • Foto do escritor: melody erlea
    melody erlea
  • 23 de mar. de 2020
  • 2 min de leitura

foi em 1995 que alanis nos ofereceu doses cavalarmente irregulares de canções que serviam pra expurgar ao mesmo tempo que aceitar e abraçar traumas, tristezas, raivas e amores. essas pílulas vinham em forma de canções que marcaram uma década e seguem sendo maravilhosas e relevantes 25 anos depois.


e alanis, depois de jagged little pill, já se apresentou pra nós de todas as formas: a jovem mulher raivosa e expressiva, a hippie good vibes, a mãe, a popstar amadurecida, a ermitã..... todas versões de uma mesma mulher, se expressando e reinventando da maneira que era necessária pra ela. e pra nós, sua eterna audiência, e o fardo de ser uma persona pública - ter que meio que pra sempre conseguir conversar com seu público e deixá-lo se relacionar com ela, o que ela sente, o que ela diz, o que ela produz.


pois se é identificação que queremos, é isso que ela nos dá: agoa não é mais sobre traumas sexuais e amorosos com os quais todo mundo estabelece alguma familiaridade. agora é sobre a gente, 30 anos depois daquele disco que virou símbolo de uma juventude, nos deparando com todas as consequências e efeitos de nossas escolhas. agora é a gente olhando nossa cara fundo no espelho e tentando explicar - pra nós mesmos - como é que a gente virou isso.


reasons i drink é um tapa na cara daqueles ardidos. nos expõe a verdade de quem a alanis se tornou por causa do jagged little pill, da fama e de quem a fez acontecer - nós. dá uma culpa, ter sido parcialmente responsável pela despersonificação e objetificação daquela mulher, que pra nós é ídolo, estrela, deusa. 


mas mais do que isso, nos expõe à nossa verdade. a de que nossos vícios, sejam quais forem, tão aí pra sustentar tudo aquilo que a gente prefere não ver de frente. e que muitos de nós - apesar de não admitirmos - não tá nem de longe pensando em parar, porque chega um momento da vida que sem eles não sabemos direito quem somos. eles viram parte da nossa personalidade, da nossa "marca", e é mais fácil seguir com eles do que tentar contruir tudo de novo, do zero, sem saber nem por onde começar.


e, porra, o clipe é muito bem pensado: olha as diferentes versões da alanis. tem a que a gente vê e ama (aquela lá de 1995, do clipe de ironic), tem a que vive em função da fama e suas demandas, tem a mãe, exausta, ainda sem conseguir encontrar a alegria materna comercial na bagunça que é a vida pós-parto. e tem a versão que parece responsável, profissional, que tem as coisas meio no lugar - e que no fim tá lá só fingindo, enquanto a loucura toda  causada por todas as outras versões cresce e sai do controle de forma, aparentemente, irreversível.


às vezes a única coisa que a gente quer fazer é fugir. e sempre tem um pedacinho de nós que foge, igualzinho a alanis responsável do clipe. só que aí a gente segue presa com todas as outras partes nossas, e não tem nunca como fugir de todas elas. e é por isso que a gente bebe.









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