as apimentadas: a frente do seu tempo
- melody erlea
- 6 de jul. de 2021
- 3 min de leitura

quando gabrielle union participou das audições do filme "as apimentadas", de 2000, ela tava querendo na verdade ser escolhida pra um outro filme de cheerleader, sugar&spice, em que um grupo de líderes de torcida assalta um banco (por motivos que podemos discutir num próximo post, quando eu for falar especificamente sobre esse filme).
no fim, os produtores de sugar&spice optaram por um elenco todo branco (isso mesmo: eles "optaram" por não incluir diversidade no elenco), e gabrielle aceitou o papel de isis, a capitã do time de torcida que finalmente tem sua chance de competir nacionalmente - após anos tendo suas coreografias roubadas pelas cheerleaders da escola de gente branca e rica.

que as apimentas tenha virado mais ou menos um ícone do cinema teen dos anos 2000 e sugar&spice tenha sido mais ou menos esquecido - e que lá em 2000 o filme tivesse, de leve, discutindo consciência de classe e privilégio branco dentro de um enlatado adolescente hollywoodiano sobre cheerleaders - é apenas um discreto sinal dos tempos que estariam por vir.
para além disso, as apimentadas ofereceu, lá da sua posição de filme mega representativo da transição dos anos 90 pros anos 2000, o retrato do rapaz indie com discman, fones de ouvido, humor seco e uma invejável coleção de camisetas de banda (além de um quarto enorme cheio de pôsteres, aparelho de som, guitarra e amplificador, aquele deslumbre norte-americano).
é claro que o rapaz indie, cliff, acaba se apaixonando por kirsten dunst, cheerleader loira e fofa que não faz IDEIA do que acontece no mundo fora dos seus treinos (ela pergunta se ele toca no the clash, a banda estampada na camiseta dele, e reage com "uau que vintage!" quando ele explica bem detalhadamente que não, clash é uma banda punk britânica de mais ou menos 1976 a 1983).
além de levar seu papel como capitã das líderes de torcida muito a sério, kirsten dunst nos presenteia com alguns dos melhores luquinhos y2k que você vai encontrar por aí, com direito a cintura baixa, baby look em candy color, colares de miçanga e uns penteados que deixam lizzie mcguire no chinelo.
e essa mocinha de borboleta no cabelo consegue não apenas o coração de cliff, o rapaz-indie, mas também a amizade incondicional da irmã dele - que eu conheço e amo como faith, a caça-vampiros gone rogue de buffy, mas que em sua versão cheerleader-grunge se chama missy e é uma adolescente revolts com 1 visu sporty-spice-meets-courtney-love, só que mais adolescente.
e vocês me desculpem mas em 2021 eu ainda não superei a eliza dushku dos anos 90 e começo dos 2000: além de buffy teve a participação dela no spin-off angel, e depois a série dela com o jason priestley (o brandon de barrados no baile), tru calling, em que ela trabalhava num necrotério e voltava no tempo pra ajudar pessoas a escaparem de suas mortes errôneas.
não é incrível? primeiro ter um job onde ela precisa matar gente morta...

e depois ir pra outro em que ela revivia gente morta.

isso sem contar o estágio dela em doll house, onde ela sofreu uma leve lavagem cerebral por uma corporação que queria se aproveitar apenas dos talentos físicos dela como lutar, matar pessoas, ser linda, etc, mas não pelas ideias que ela guardava em seu cérebro.

isso tudo pra seguir sendo icônica em sua fase cheerleader

fase essa que ela tentou evitar mas foi convencida por uma certa mocinha loira

que já havia convencido todas suas irmãs a se matarem

se infiltrou na casa branca e ajudou a desmascarar o presidente nixon numa adolescência vintage

e foi maria antonieta numa vida passada

frente a tamanho poder, tudo que a elisa dushku podia fazer é aceitar que seria uma cheerleader, mesmo com histórico de esquartejar demônios e viajar no tempo.

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