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anedotas sobre matilda

  • Foto do escritor: melody erlea
    melody erlea
  • 3 de mar. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 3 de mar.


em todo passeio matilda passa por baixo de um portão do meu condomínio e foge pra rua. ela não corre pra longe, tá só afim de cheirar umas coisa diferente, mas eu me estresso do mesmo jeito - ela pode ser atropelada, entrar num mato e ser mordida por uma cobra, encontrar um ser-humano escroto que a machuque, se atracar com algum outro cachorro, etc etc etc. mais do que várias vezes por dia me pego pensando como é que um bicho desses sobreviveu na rua pelos três anos que a veterinária afirmou que ela tinha de vida: ela dorme, roncando, deitada com a barriga pra cima como se não houvessem perigos no mundo; ela come qualquer merda que encontra, de resto nojento de comida a plástico de embalagens diversas; às vezes ela sente algum cheiro indecifravelmente interessante no chão e passa uns bons minutos se esfregando nele, alheia a qualquer coisa que possa acontecer. quando passo o dia trabalhando ou durmo na casa do namo, me preocupo com a maior variedade de situações. e se ela for comer uma mosca (que ela adora caçar) e na verdade for uma abelha, e ela levar uma picada na garganta? e se ela tropeçar em algum móvel e quebrar uma pata? e se ela comer algum lixo que realmente a faça passar muito mal? e se eu esquecer de trancar a porta e ela fugir? e se ela se asfixiar em alguma coisa? e se ela morrer, do jeito que for, quando eu não estiver em casa? 


um monte de preocupações, pra eu voltar pra casa e ela estar lá, me esperando com a barriga pra cima no meio de todas as minhas plantas espalhadas pelo chão da sala. 


um bicho desse, gente? que não sabe nem que nada sabe? como pode um treco assim?


matilda quando chove fica assim, embaixo do sofá tremendo de medo. aliás não precisa nem estar chovendo ainda, ela pressente a chuva algum tempo antes de realmente começar - é melhor do que previsão do tempo, juro.


(nos últimos dias ela tem passado basicamente o tempo todo assim, são paulo tá essa beleza, mas tudo bem, esse clima cinzento combina com minha alma byroniana gótica suave)


não tenho fotos nem vídeos dos passeios com a matilda, principalmente porque é o único momento do dia em que ainda consigo ficar totalmente independente do celular - nunca o levo nos passeios e isso me basta. essa é minha horinha diária sem internet. ó, @feferesende, tô sem querer participando do seu projeto!


cada vez que vejo os stories da @virandovegana e seus cãezinhos em suas aventuras me arrependo da minha decisão, mas enquanto tô no passeio prefiro estar focada e curtindo o momento com minha cã - o passeio é pra ela mas eu posso aproveitar também, néam?


dia desses fomos até a pracinha onde matilda recentemente adquiriu o hábito de ir.


gosto porque ela fica solta, cheirando as plantas, os cocôs e as macumbas que vira-e-mexe tão por lá. dessa vez tinha uns doces e um guaraná, acho que é pra cosme e damião (embora eu duvide que qualquer entidade espiritual ia querer bebida industrializada em garrafa pet e suflair em cima de uma bandeja de isopor, mas vamo que vamo)


enquanto matilda explorava eu olhei pras copas das árvores e vi um picapau, daqueles de cabeça amarela. demorei pra me convencer que era mesmo, mas aquele chumaço amarelo na cabeça, pô, só podia ser e fiquei com torcicolo e meio vesga seguindo de árvore em árvore até ele desaparecer lá em cima.


quem também tinha desaparecido era matilda - procurei com leve pânico e a vi na rua, olhando pra pracinha de longe com os olhos compridos e a língua de fora. na praça caminhavam os cachorros mal-encarados da rua, que dominam uma parte da praça mas tinham decidido desfilar sua autoridade por todo o território dessa vez.


matilda é que nem eu: ao avistar mean girls, a melhor técnica é ficar bem longe.


voltamos pra casa com a sensação de que ainda vamos conquistar esses cães da rua e em breve bullys e tímidos cagarão juntos no vasto território da pracinha, sem divisão de classes. (matilda, afinal, está um cão de apartamento mas jamais esquece suas origens vira-latas. vai chegar cantando 🎶don't be fooled by the gostosuras that I got, I'm still I'm still matilda from the block 🎶)


outro dia descemos eu e matilda até a pracinha que ela curte. parte da pracinha é área restrita, habitada pelos cães mal-encarados da rua. já tentei ver se matilda consegue brincar com eles mas ela é medrosa e fica na dela, tipo a nerd que não chega nem perto da mesa das populares na hora do almoço em filme de colégio americano.


nesse dia ao invés dos vira-latas habituês tava um cara brincando com seus dois cães, um buldogão (acho?) daqueles alto e fortes e um buldogue inglês, daqueles gordos e tontos.


matilda ficou meio de canto desconfiada e o buldogue gordo imediatamente veio até mim, se apoiou de pé nas minhas pernas e me olhou nos olhos longa e docemente. estabelecemos que nos gostávamos quando seu humano falou: fernanda! não gruda assim nas pessoas!


FERNANDA. o buldogue se chamava fernanda.


eu sou totalmente 100% time bichos com nome de gente. ou de comida. ou de objetos aleatórios.


depois de aprovar minha presença na pracinha, fernanda balançava sua bundinha sem rabo e deu uma corridinha feliz até a matilda... que levou um susto, saiu correndo em disparada na velocidade da luz e só parou no portão de casa.


agora imagina, se até da fernanda a matilda tem medo, imagina dos vira-latas donos da pracinha?


não levo celular nos passeios, então saca aqui embaixo pra ver o desenho que fiz de fernanda, @malfeitona style:


matilda gosta do que ela conhece - todo dia a gente faz mais ou menos o mesmo caminho no passeio, com poucas e rápidas mudanças, quando acontecem.


semana passada do dia pra noite colocaram latas de lixo em vários postes pelo bairro, o que é ótimo se você não é a dona da matilda: tem um lixo novo no poste logo em frente à entrada do meu prédio, e no primeiro dia que ele tava lá a matilda deu um passo pra fora do portão, se assustou como alguém frente a um perigo mortal, voltou correndo pra dentro, esbarrou em mim, eu tropecei na coleira dela e caí. não saímos de casa nesse dia.


desde então tá rolando toda uma manobra duplo twist carpado pra sairmos de casa e contornarmos a lata de lixo pelo meio do asfalto. ainda bem que minha rua já é naturalmente vazia, e agora na quarentena tá deserta. da pra andar no meio da rua de boa.


esses dias algo incrível aconteceu: tá vendo esse caminho de grama da foto? fica na frente da minha casa. matilda adora andar aí mas sempre vai até a metade e volta correndo com medo do desconhecido (a rua de trás). dessa vez, ela foi até o fim. lá do outro lado. pisou na calçada no fim do caminho e tudo.


e aí voltou correndo pra casa, exausta pelo stress de explorar esse mundo grande e selvagem. (tipo eu nesses tempos de quarentena, que preciso de uma soneca de 10 horas cada vez que saio pra ir ao mercado. tá estressante demais sair de casa, cê tá loko)



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